Sequência Didática em Competência
Leitora – Texto “Aeroporto” (Carlos Drummond de Andrade)
Estudos
e reflexões feitas nos últimos anos têm apontado falhas na escola quanto à
forma como esta vem trabalhando a leitura em sala de aula. Conforme aponta Rojo
em seu texto Letramento e capacidade de
leitura para a cidadania, “[...] as
práticas didáticas de leitura no letramento escolar não desenvolvem senão uma
pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas letradas exigidas pela
sociedade abrangente: aquelas que interessam à leitura para o estudo na escola,
entendido como um processo de repetir, de revozear falas e textos de
autor(idade) – escolar, científica – que devem ser entendidos e memorizados
para que o currículo se cumpra. Isto é feito, em geral, em todas as
disciplinas, por meio de práticas de leitura lineares e literais,
principalmente de localização de informação em textos e de sua repetição ou
cópia em respostas de questionários, orais ou escritos. [...]”.
Sendo
assim, a presente Sequência Didática tem como principal objetivo desenvolver e
aprimorar, através das estratégias utilizadas, a competência leitora dos
alunos.
A
atividade proposta foi elaborada para alunos a partir do 6º ano do Ensino
Fundamental, podendo ser aplicada em qualquer turma que o professor julgar pertinente.
INICIANDO
O
primeiro momento dessa Sequência Didática será realizado através de uma
sensibilização para o texto escolhido.
ANTES
·
Conversar com os alunos sobre a
importância da leitura para suas vidas e a grande viagem que ela nos
proporciona.
·
Comentar com os alunos os motivos que
levaram a escolha desse texto. Mencionar que ele aborda uma situação que
podemos encontrar no nosso dia a dia; que é interessante, emocionante, além de
surpreendente.
·
Chamar a atenção dos alunos para o
gênero que lerão – crônica - tentando assim, ativar os conhecimentos prévios
acerca desse gênero através de perguntas como: Você costuma prestar atenção às
coisas que acontecem ao seu redor? Alguma vez já parou para refletir sobre algo
que tenha acabado de observar? O que se lembram sobre a crônica?
·
Explicar aos alunos que o texto a ser
trabalhado pertence à tipologia narrativa e questioná-los quanto a isso: o que
se lembram sobre texto narrativo?
·
Detectar os conhecimentos prévios dos
alunos a respeito do título: o que sabem, ou já ouviram falar, sobre “Aeroporto”?
·
Mostrar para os alunos algumas imagens a
fim de que aqueles que conhecem revejam e os que nunca viram, possam conhecer
este ambiente.
·
Após as imagens, na tentativa de
situá-los um pouco mais em relação ao título, passar o trailer do filme “O
terminal”, pois através deste, os alunos poderão ter uma noção de como é um
aeroporto. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=K-hL8a3ZHGw
·
Feito isso, questioná-los: Qual é o
assunto que eles esperam encontrar no texto que será lido? O que as pessoas fazem
em um aeroporto? Eles já foram a algum aeroporto? É um lugar alegre ou triste?
Dá para perceber sensações e emoções diferentes em um aeroporto? Por quê?
·
Diante dessas questões e informações
levantadas, embarcar na leitura em voz alta (feita pelo professor) para
comprovar ou não as expectativas criadas – leitura compartilhada. Segue o texto
fragmentado para a leitura e questionamentos do professor.
DURANTE
·
Ao logo do texto surgirão palavras que
talvez eles não reconheçam = Galeão, quadrimotor, vã, parco, ameno, ostensiva,
abonam, inoportuno, apraz, ritos sacros, Bach, requisitava-o, incontinência e
puído. Tentar esclarecer essas palavras conforme forem aparecendo durante a
leitura através de inferência ou consulta ao dicionário;
·
Fazer a leitura do primeiro parágrafo:
Aeroporto
Carlos Drummond de Andrade
Viajou
meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu
quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos,
embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito
assunto, e não deixamos de explorá-la a fundo. Embora Pedro seja extremamente
parco de palavras e, a bem dizer, não se digne pronunciar nenhuma. Quando
muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz
entender admiravelmente. É o seu sistema.
·
Depois de ler o primeiro parágrafo,
perguntar aos alunos se eles já conseguem formar uma ideia de quem e como é
Pedro;
·
Segundo parágrafo:
Passou
dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores,
com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque
ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo
considerado sorriso especial, revelador de suas intenções para com o mundo
ocidental e o oriental e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores,
vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da
falta de dentes), abonam a classificação.
·
Novamente pausar a leitura para indagar
se imaginam o porquê de Pedro ser tão querido pelas pessoas;
·
Terceiro parágrafo:
Devo
admitir que Pedro, como visitante, nos deu trabalho: tinha horários especiais,
comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais.
Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios
maiores. Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e
ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou inoportuno. Suas horas de sono — e
lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia — eram respeitadas
como ritos sacros a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo.
Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém é que
não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro,
deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também
nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da TV. Andando na ponta dos pés,
ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não
tinha importância.
·
Lido o terceiro parágrafo, verificar com
eles se a ideia e imagem que fizeram acima se confirmam. Também perguntar se
eles gostariam de receber em suas casas alguém como Pedro e também por que será
que apesar de todo o trabalho que esse hóspede dá, as pessoas continuam se
importando tanto com ele;
·
Quarto parágrafo:
Objeto
que visse em nossa mão, requisitava-o. Gosta de óculos alheios (e não os usa),
relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório,
botões simples ou de punho.Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las,
mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca.
Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este
juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis —
porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer
suspeita ou acusação apressada sobre a razão íntima de seus atos.
·
Neste momento, verificar com os alunos
se imaginam o porquê de Pedro agir assim: querer pegar todas as coisas que vê e
ainda pô-las na boca;
·
Quinto parágrafo:
Poderia
acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o
que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque
destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não
me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a
sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à
nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhes conferia caráter necessário,
de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
·
Neste quinto parágrafo, verificar mais
uma vez a imagem que estão fazendo de Pedro: elas se mantiveram durante a
leitura? Alguém já faz ideia de quem é ele?
·
Sexto e último parágrafo do texto:
Viajou
meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a
seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.
·
Agora, no último parágrafo, onde o
“mistério” é revelado, levá-los a refletir sobre a última fala do narrador “De
repente o aeroporto ficou vazio.”. O que será que o narrador quis dizer com
isso? Após algumas respostas questionar se eles já se sentiram assim algum dia.
DEPOIS
Feita
essa leitura e tendo discutido todas as hipóteses já reveladas, partir para o
momento de reconto. Agora, o professor pode designar um aluno para isso, ou
ainda, permitir que a sala, em ordem, vá recontando a história lida. Enquanto
os alunos recontam, o professor anota as informações na lousa – o professor
também pode intervir nesse processo relembrando fatos que os alunos podem estar
se esquecendo.
Nesta
nova etapa, o professor pode solicitar aos alunos uma produção textual onde irá
verificar se há problemas - pontuação, ortografia, coesão, coerência, entre
outros - a serem sanados e, assim, adotar procedimentos adequados.
Além
da produção textual, o professor pode também solicitar aos alunos que, baseados
na crônica, eles recontem a história através do gênero História em Quadrinhos. Este
trabalho pode ser realizado extraclasse e o professor pode ainda orientar seus
alunos a usarem sites de criação de HQs como, por exemplo: http://www.pixton.com/br
Para
que os alunos não encontrem maiores problemas quanto à utilização desse site, o
professor pode, antes, levá-los à sala de informática de sua escola e
ensiná-los como usar adequadamente essa ferramenta.
Professor
Esperamos
que esta SD seja útil para seu trabalho em sala de aula.
Bom
trabalho!
Olá...
ResponderExcluirAmei as sugestões de sequências didáticas
oportunizado pelo grupo.
Abraços
Isaura