segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sequência Didática em Competência Leitora - Texto "Aeroporto" de Carlos Drummond de Andrade

A Sequência abaixo nos foi solicitada no curso MGME e elaborada em grupo.  Esperamos que este material seja útil a você que nos visita.
 
Sequência Didática em Competência Leitora – Texto “Aeroporto” (Carlos Drummond de Andrade)


Estudos e reflexões feitas nos últimos anos têm apontado falhas na escola quanto à forma como esta vem trabalhando a leitura em sala de aula. Conforme aponta Rojo em seu texto Letramento e capacidade de leitura para a cidadania, “[...] as práticas didáticas de leitura no letramento escolar não desenvolvem senão uma pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas letradas exigidas pela sociedade abrangente: aquelas que interessam à leitura para o estudo na escola, entendido como um processo de repetir, de revozear falas e textos de autor(idade) – escolar, científica – que devem ser entendidos e memorizados para que o currículo se cumpra. Isto é feito, em geral, em todas as disciplinas, por meio de práticas de leitura lineares e literais, principalmente de localização de informação em textos e de sua repetição ou cópia em respostas de questionários, orais ou escritos. [...]”.

Sendo assim, a presente Sequência Didática tem como principal objetivo desenvolver e aprimorar, através das estratégias utilizadas, a competência leitora dos alunos.

A atividade proposta foi elaborada para alunos a partir do 6º ano do Ensino Fundamental, podendo ser aplicada em qualquer turma que o professor julgar pertinente.

 INICIANDO

O primeiro momento dessa Sequência Didática será realizado através de uma sensibilização para o texto escolhido.

ANTES

·         Conversar com os alunos sobre a importância da leitura para suas vidas e a grande viagem que ela nos proporciona.

·         Comentar com os alunos os motivos que levaram a escolha desse texto. Mencionar que ele aborda uma situação que podemos encontrar no nosso dia a dia; que é interessante, emocionante, além de surpreendente.

·         Chamar a atenção dos alunos para o gênero que lerão – crônica - tentando assim, ativar os conhecimentos prévios acerca desse gênero através de perguntas como: Você costuma prestar atenção às coisas que acontecem ao seu redor? Alguma vez já parou para refletir sobre algo que tenha acabado de observar? O que se lembram sobre a crônica?

·         Explicar aos alunos que o texto a ser trabalhado pertence à tipologia narrativa e questioná-los quanto a isso: o que se lembram sobre texto narrativo?

·         Detectar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito do título: o que sabem, ou já ouviram falar, sobre “Aeroporto”?

·         Mostrar para os alunos algumas imagens a fim de que aqueles que conhecem revejam e os que nunca viram, possam conhecer este ambiente.



 
·         Após as imagens, na tentativa de situá-los um pouco mais em relação ao título, passar o trailer do filme “O terminal”, pois através deste, os alunos poderão ter uma noção de como é um aeroporto. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=K-hL8a3ZHGw

·         Feito isso, questioná-los: Qual é o assunto que eles esperam encontrar no texto que será lido? O que as pessoas fazem em um aeroporto? Eles já foram a algum aeroporto? É um lugar alegre ou triste? Dá para perceber sensações e emoções diferentes em um aeroporto? Por quê?

·         Diante dessas questões e informações levantadas, embarcar na leitura em voz alta (feita pelo professor) para comprovar ou não as expectativas criadas – leitura compartilhada. Segue o texto fragmentado para a leitura e questionamentos do professor. 

DURANTE


·         Ao logo do texto surgirão palavras que talvez eles não reconheçam = Galeão, quadrimotor, vã, parco, ameno, ostensiva, abonam, inoportuno, apraz, ritos sacros, Bach, requisitava-o, incontinência e puído. Tentar esclarecer essas palavras conforme forem aparecendo durante a leitura através de inferência ou consulta ao dicionário;

·         Fazer a leitura do primeiro parágrafo:

Aeroporto

Carlos Drummond de Andrade

Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-la a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras e, a bem dizer, não se digne pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.

·         Depois de ler o primeiro parágrafo, perguntar aos alunos se eles já conseguem formar uma ideia de quem e como é Pedro;

·         Segundo parágrafo:

Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas intenções para com o mundo ocidental e o oriental e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.

·         Novamente pausar a leitura para indagar se imaginam o porquê de Pedro ser tão querido pelas pessoas;

·         Terceiro parágrafo:

Devo admitir que Pedro, como visitante, nos deu trabalho: tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou inoportuno. Suas horas de sono — e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia — eram respeitadas como ritos sacros a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da TV. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância.

·         Lido o terceiro parágrafo, verificar com eles se a ideia e imagem que fizeram acima se confirmam. Também perguntar se eles gostariam de receber em suas casas alguém como Pedro e também por que será que apesar de todo o trabalho que esse hóspede dá, as pessoas continuam se importando tanto com ele;

·         Quarto parágrafo:

Objeto que visse em nossa mão, requisitava-o. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho.Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis — porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada sobre a razão íntima de seus atos.

·         Neste momento, verificar com os alunos se imaginam o porquê de Pedro agir assim: querer pegar todas as coisas que vê e ainda pô-las na boca;

·         Quinto parágrafo:

Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhes conferia caráter necessário, de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.

·         Neste quinto parágrafo, verificar mais uma vez a imagem que estão fazendo de Pedro: elas se mantiveram durante a leitura? Alguém já faz ideia de quem é ele?

·         Sexto e último parágrafo do texto:

Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.

·         Agora, no último parágrafo, onde o “mistério” é revelado, levá-los a refletir sobre a última fala do narrador “De repente o aeroporto ficou vazio.”. O que será que o narrador quis dizer com isso? Após algumas respostas questionar se eles já se sentiram assim algum dia.

DEPOIS

Feita essa leitura e tendo discutido todas as hipóteses já reveladas, partir para o momento de reconto. Agora, o professor pode designar um aluno para isso, ou ainda, permitir que a sala, em ordem, vá recontando a história lida. Enquanto os alunos recontam, o professor anota as informações na lousa – o professor também pode intervir nesse processo relembrando fatos que os alunos podem estar se esquecendo.

Nesta nova etapa, o professor pode solicitar aos alunos uma produção textual onde irá verificar se há problemas - pontuação, ortografia, coesão, coerência, entre outros - a serem sanados e, assim, adotar procedimentos adequados.

Além da produção textual, o professor pode também solicitar aos alunos que, baseados na crônica, eles recontem a história através do gênero História em Quadrinhos. Este trabalho pode ser realizado extraclasse e o professor pode ainda orientar seus alunos a usarem sites de criação de HQs como, por exemplo: http://www.pixton.com/br

Para que os alunos não encontrem maiores problemas quanto à utilização desse site, o professor pode, antes, levá-los à sala de informática de sua escola e ensiná-los como usar adequadamente essa ferramenta.

Professor

Esperamos que esta SD seja útil para seu trabalho em sala de aula.

Bom trabalho!

Um comentário:

  1. Olá...

    Amei as sugestões de sequências didáticas
    oportunizado pelo grupo.
    Abraços

    Isaura

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