Algumas lembranças do passado sempre nos levam a um momento de reflexão, voltam as tristezas, reaparecem as alegrias, surgem os momentos mágicos, percebemos vultos que desapareceram com o passar do tempo e muito mais ... Quando criança, lembro-me perfeitamente, do meu primeiro contato com um livro. Foi quando minha mãe e eu fomos à uma loja, por sinal de uma parente dela que vendia artigos para costura, um armarinho. Nesta loja,  vendiam  roupas, chinelos e até material escolar. Por incrível que pareça, meu primeiro livro, a cartilha Caminho Suave, também foi comprada lá. Foi uma experiência e tanto, pois aquela cartilha me encantou de tal forma que adorava ficar observando aquelas letras, palavras e desenhos pouco ilustrados. "Tinha um cheirinho especial de coisa nova."

Num outro dia, minha mãe disse que eu iria para a escola. Era novidade, nunca tinha frequentado um parquinho ou pré-escola. Ela arrumou todo o material em uma bolsa nova e lá colocou a cartilha juntmente com os outros materiais. Na escola, a professora retirou a cartilha da minha bolsa e de todos os outros alunos guardando-as  em seu armário. Senti que tinha perdido meu primeiro livro sem conhecer suas palavras. Chorei para minha mãe enquanto voltávamos para casa  naquele dia. Consolando-me, como toda mãe faz, disse que a professora entregaria em outro dia quando fôssemos utilizá-la para as primeiras leituras. Mas criança é criança. fiquei decepcionado, pois havia perdido meu primeiro livrinho e novinho.

Com o passar do tempo fomos aprendendo as primeiras letras e a minha curiosiodade para ler e escrever era tamanha. Perturbava meu irmão mais velho para que ele lesse para mim e mostrasse as letrinhas, mas ele não tinha paciência. Meu pai, sempre trabalhando fora de casa não tinha muito tempo. Lia os jornais quando estava em casa. Sempre o admirei, tinha estudado até o primário em escola rural, mas sabia das palavras que ele só. Minha mãe também gostava bastante de ler os jornais, dizia que as notícias, manchetes e reportagens eram importantes para as nossas vidas. Isso fez com que também  me apaixonasse pela leitura. 

Apreciar um clássico da literatura, ler um conto, viajar com uma ficção também fazem parte de minha vida, pois acredito que as palavras são capazes de encantar qualquer pessoa desde que as toquem com o sentimento, assim como as primeiras letras da cartilha me aguçaram. O despertar para um mundo repleto de mistérios ou mesmo retroceder no tempo e na história fazem de nós o que somos, pessoas que vivem e sonham.